Filantropia: 2025 exige um novo olhar para o investimento social privado
A filantropia estratégica é essencial para enfrentar crises, reduzir desigualdades e fortalecer mudanças sociais
*Por Daniel Grynberg
O aumento das crises climáticas, a desigualdade social crescente e o enfraquecimento da confiança nas instituições reforçam a necessidade de uma atuação mais coordenada e estratégica do setor filantrópico. Este setor não é tão conhecido e desenvolvido no país, mas de grande impacto ao redor do mundo.
O Brasil tem enfrentado uma sequência de eventos extremos, como enchentes, incêndios e deslizamentos. O relatório destaca a importância de um modelo de resposta que vá além da doação pontual de pessoas físicas ou mesmo de empresas e inclua um investimento consistente e estratégico na prevenção e reconstrução de cidades e regiões inteiras depois dsses eventos. Exemplos como o Fundo de Catástrofe da Zurich Seguros e o RegeneraRS mostram como a filantropia pode se estruturar para oferecer soluções mais eficazes e duradouras.
A agenda de diversidade vem enfrentando retrocessos, especialmente no mundo corporativo. O relatório do IDIS mostra que apenas 21% das empresas brasileiras possuem políticas afirmativas para pessoas negras. O papel da filantropia, nesse contexto, é atuar como trincheira para garantir avanços, investindo em iniciativas como o Pacto de Promoção da Equidade Racial, um compromisso formal para promover a igualdade racial e combater as desigualdades no ambiente de trabalho e na sociedade.
Historicamente, o investimento social privado tem sido associado às grandes corporações. No entanto, o relatório evidencia como MPMEs podem – e devem – desempenhar um papel ativo. Modelos como o Compromisso 1% e empresas como Pantys e Editora Voo mostram que o ISP pode ser acessível e adaptável para diferentes perfis de negócio.
Outro ponto central do estudo é a necessidade de fortalecer as estruturas das Organizações da Sociedade Civil (OSCs). Investir em governança, planejamento estratégico e gestão de recursos humanos é fundamental para garantir impactos duradouros. A filantropia baseada na confiança (trust-based philanthropy) é uma abordagem essencial para promover esse desenvolvimento de forma sustentável.
O bem-estar mental da população tem impacto direto no engajamento cívico. O Brasil ocupa uma das piores posições em rankings globais de saúde mental, e essa crise afeta diretamente a capacidade de mobilização social. O relatório reforça que organizações do terceiro setor precisam considerar o tema como prioridade, criando ambientes mais saudáveis para seus colaboradores e beneficiários.
A filantropia tem um papel fundamental na construção de uma sociedade mais justa e resiliente. No entanto, para que o investimento social privado seja eficaz, ele precisa estar alinhado a estratégias de longo prazo e fomentar mudanças estruturais. Em 2025, mais do que nunca, é hora de transformar a esperança em ação.
*Daniel Grynberg é diretor executivo do Grupo +Unidos, bacharel em Administração de Empresas pelo Insper e mestrado em Gestão Pública pelo Insper.